segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O EFEITO COLATERAL DA OBRA

;o que interessa a um filme são os acontecimentos, aquilo que jamais se repetirá...nesse filme em especial – O SARCÓFAGO – o que interessa são os setores ligados a miséria, a dor, a guerra, a morte e ao êxtase de um homem-máquina....comecemos pelo primeiro setor...;estávamos indo montar a luz na Uzynanucleatelier de Jayme Fygura...e fui pensando durante o trajeto sobre a interpretação de forças com a equipe, sobre a experimentação de quadros, sobre o cálculo de problemas que teríamos pela frente...logo em seguida...quando as gambiarras já estavam incrustadas na parede de barro...quando o objeto arquitetônico, a criação do espaço nos chamava para o ato fílmico...quando a presença do diretor, suas diretrizes e seus furores secretos se confundiam...quando a presença do fotógrafo e o ato fotográfico (o gesto de fotografar)...se sobrepunham...quando a relação da equipe com o plano de composição se mixavam...nesse instante a narrativa tomava dimensões transversais entre a imagem fixa da FYGURA de JAYME e a imagem em movimento que estávamos empenhados em concretizar...esse lugar do fotógrafo na era digital...esse antipoeta das cores...o pintor de irrealidades...ou como quer que o chamemos...somado com a dimensão conceitual e pragmática do maestro...do diretor-montador...e ao estado crepuscular de um artista verdadeiramente visual...era - digamos - o começo de uma demonstração de admiração mútua...e certo embasbacamento em evidenciar os quadros em perspectiva geométrica de uma salvador cínica e trágica...e por vezes dramática...atravessada pelo corpo-obra...; com a natureza de Exú...o preto e o vermelho...revelaremos um paradoxo entre o dentro e o fora....a exterioridade e o interior através de cores quentes e sombras recortadas...a dor de um artista na miséria social...mas ainda assim imbuído de uma força esplêndida que será encarada através das lentes de um grafista não menos miserável...daí a duplicidade do encontro...a triplicidade melhor dizendo...quando pensamos na loucura da logística empunhada e materializada com certa doçura e brutalidade pelo compositor da obra...essa complementaridade do encontro...a densidade de um corpo-mídia...e a mídia densa de nosso corpo coletivizado...em busca de uma vibração...dos feixes luminosos e das camadas de flechas incendiárias...estamos...a bem da verdade...compondo a própria luminosidade da dor...com o calor, o frio do suor, a raiva, as intensidades, os pés inchados, a morte-vida de uma engrenagem em pleno vapor...produzindo velocidades na lentidão do centro...e trazendo da periferia...as texturas conceituais e a alucinação pungente de uma experiência física...no mínimo curiosa...mas é muito mais que isso...é a violação dos estereótipos da cosmogonia e dos sentimentos convencionais...e de certo modo...é o que faz da nossa vontade...uma densidade corpo-midiática...um homem “morto-imortal”...um narrador-personagem do próprio relato...uma objetiva-objeto do discurso...sob um contraluz difuso entre a vala comum da política e da poética...é também um território antropomaquinomorfizado... ;vejamos, portanto, alguns momentos que ilustram a maneira pela qual incursionamos pela experimentação desse campo cinemático...: os três primeiros dias de filmagem no SARCÓFAGO...chamamos erroneamente de Setor da limpeza...nesses primeiros passos o homem-máquina...e tudo aquilo que comumente designamos de lixo fazia uma diligência cautelosa...já que tudo ali era simplesmente matéria de composição...máquina abstrata em estado crepuscular...um lugar fora-de-lugar...material inútil era ,pois, material embaçado e nublado, agrupamento molecular...donde as peças do jogo estavam, de certo modo, embaralhadas...não podíamos dizer o que deveria sair sem antes pensarmos numa primeira contradição...embora desaprove essa vertente da contemporaneidade (a reinvenção do corpo pela máquina)...as mutações do corpo-obra de Jayme eram ,de todo modo, mutações de superfície maquínicas...reinvenções profundas do corpo-espírito através de petrechos, utensílios, material subjetivo e arcaico...uma segunda pele...e tudo isso era mesmo necessário para as metamorfoses...todo esse material inutilizado para “homens comuns”, ou melhor, seres acidentalmente cotidianos...era um desejo de potencializar ainda mais a carapaça esplêndida...jamais poderíamos reduzir a imagem dos materiais à uma função social...LIXO!?

Leia o Texto Completo em:

http://cavalodocao.multiply.com/journal/item/40/O_EFEITO_COLATERAL_DA_OBRA

Texto: Fábio Rocha ( Diretor de Fotografia )

Fotos Making Of: Inailton

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