segunda-feira, 30 de março de 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

FARPAS - SHOW 13.03


Croqui de Jayme para Show no Pelourinho


A DESCOLONOMIA E O PÉ COMO ORIGEM DAS DESGRAÇAS


"O detalhe é ornamento que se traduz em puro signo, que produz sentido (...), que é enfeite, metáfora do cordão umbilical de nossa ancestralidade. Enfeitiça, é poder, sedução, poderes inabarcáveis, não totalmente normatizáveis. Seu poder reside justamente no que não diz, no que esconde, no que não suporta análise."

Eliane Chagas

Basta olhar para os pés de JAYME para perceber a origem de suas desgraças...quer dizer...para um entendimento das desgraças de um andarilho em sua cotidiana DESCOLONOMIA...expliquemos melhor...uma das poucas coisas que podemos ver quando olhamos para esse neotuaregue da cidade e o seu processo de andar, perambular, deixar de ser, mudar sem sair do lugar...num movimento, digamos, de des-desgraçar a vida...é o seu PÉ...vamos por parte...historicamente o nomadismo na economia recolectora era motivado pela deslocação das populações na procura constante de alimentos...hoje o sedentarismo e as manicures se completam...pedra pome...alicates...esmaltes...e pés finos...isos...demonstração da subjetividade vindo de baixo...no caso do FYGURA...não há pedra pome e alicate que dê jeito na queratina adquirida em suas andanças...tamanha a movimentação Descolectora – neologismo que designa um novo aspecto do nomadismo: descolar as coisas – o pé e a descolonomia...nesse sentido estão intimamente ligados...são causa e efeito...o pé rachado da desgraça social e uma pseudociência nômade de espaço impreciso se complementam...onde espaço, tempo, velocidade, política, economia simbólica, acidente, percurso, fome, ternura, se perpendicularizam...e quid facti...é daí que podemos apreender a – a quem interessar possa – a radical transfiguração da carapaça do artista e a frágil competência dromológica das instituições políticas herdadas da modernidade quase o assunto é processo civilizatório...ainda não está claro...nos esforcemos um pouco mais...adentrar no campo da Transpolítica...naquilo que chamei por acaso de CINEMADOLOGIA (método de fazer cinema caminhando....e caminhar nas imagens-movimento sem sair do lugar) podemos dizer que ao perceber recortar o pé de JAYME...logo utilizamos as interações para capturar e devolver ao organismo social um deslocamento (descolamento) autêntico, singular, e mais que isso, verdadeiramente desgraçado pelo espaço-tempo da nossa transhistoricidade...bem que o FYGURA poderia ter desenvolvido com seu talento de ferreiro...uma espécie de Homeless Vehicle...aquele projeto do designer Krzysztof Wodiczko...carrinho construído com placas de alumínio, barras e grades de aço, e plexiglass....só que JAYME não é um homeless...sua casa é o mundo....e seu mundo é uma grande oca de resistência...além do que as “suas coisas” é a única coisa que importa...e com razão porque o seu estranhamento é único...o estranhamento aumenta quando alguns moradores de rua tentam se identificar com os farrapos...as farpas...e não conseguem mais que atestar uma diferença fundamental de vontade...o estranhamento aumenta quando um burguês quer tirar uma foto ao lado de um mutante para recompor a sua imprecisão e não consegue nada mais que uma discrepância...seu estranhamento aumenta quando a rostidade zero acaba por provocar uma irritação da identidade e uma contraviolência de espelho e isso é nada mais que um atestado de que o medo tem um rosto...seu estranhamento é maior quando nos seus abafanéticos passos...a discussão acerca das diferenças cai feito Faetonte...quando se percebe a intolerância...pedradas...xingamentos...insultos que revelam de mais a mais a hipocrisia dessa pseudo democracia do igual...é preciso dizer...em salvador ninguém tolera o diferente...e a maledicências que é um dos elementos mais forte dessa nossa “identidade” nada mais é do que a incapacidade de aceitar a enesidade das cosgomonias...para os neófitos explico melhor....a incapacidade de aceitar a diversidade de visões de mundo...rejeitar o outro é não aceitar a si mesmo como diferença...a repetição do mesmo é sobremaneira uma incapacidade de se trasubstanciar...de se despersonalizar no outro...de um modo claro...e posso dizer isso com convicção porque sempre fiz isso...meu revide era “falar mal” daquele que não aceitava o mal....a transgressão...o torto...o monstruoso...o mórbido...o underground...a transvaloração...o alternativo...e isso já é uma primeira imagem desse ambiente – daqui ninguém sai vivo – e que nas perambulações do monstro urbano logo fica patente essa outra maledicência...que chamo de falsa maledicência...que é a incapacidade de identificar procedimentos diferenciados misturado com uma pitada de inveja da sua própria incapacidade de ser diferente...somado ao “mal pelo mal”...o espírito de rebanha mal-educado para a concretude da disjunção...citemos um exemplo para concretizar ainda mais isso que cotidianamente se dá com o FYGURA...um misto de intolerância com fascismo...ódio com mediocridade...ingratidão com soberba...citarei o exemplo do cinema onde a fogueira é grande e a luta pelos espaços de saber-poder são incansáveis e tortuosos...como se fosse mesmo possível destruir um processo singular...ou simplesmente deslegitimá-lo...este por exemplo de O SARCÓFAGO...ouvi nas alcovas...ou melhor em conversa fiada...em falácias de dispersão e falcatruas de disceptação...desses sensores do disse-me-disse (e isso aqui é apenas uma análise discursiva...eu me complemento dessas fissuras) que esse filme não daria certo da maneira que foi pensado, iluminado e gestado....como não?
Para ler o texto na integra acesse:

Texto: Fábio Rocha
Foto: João Ramos

MUTAÇÕES

PRAÇA MUNICIPAL - 2003

terça-feira, 17 de março de 2009

VISITAÇÃO CONCLUIDA

Chegamos ao fim da segunda etapa do nosso filme. Com o show “O Sarcófago”, fechamos a fase de produção, captação, filmagem. Depois de atravessar duas sextas-feiras 13 no nosso cronograma e uma boa quantidade de empecilhos intra e extra-filme, todos sobreviveram. Claro que bastante moídos e carcomidos.

O desafio de registrar Jayme e seu Sarcófago durante um mês foi uma experiência fantástica e inesquecível. A quantidade de historias e experiências acumuladas durante essa aventura imagética, certamente serão carregadas por cada membro da equipe para sempre. Tenho certeza que até o próprio Jayme foi tocado e modificado por esse fluxo. Aproveito para agradecer a toda equipe e todos os nossos apoiadores que tornaram possível essa etapa. (Berimbau Filmes, FACS, Restaurante RAMA, Pelourinho Cultural, Joel Almeida, Estrada Perdida)

Agora é concentrar na montagem e finalização dos sons e imagens capturadas.

O blog não vai ser abandonado, muito pelo contrario, vou me esforçar para lembrar cada dia de filmagem e continuar atualizando meus RELATOS. Além deles as sessões MUTAÇÕES, com as fotos antigas de Jayme, FARPAS, com seus escritos e desenhos e AUDIOVISUALIZAÇÕES com imagens do making of e trechos do filme, continuarão sendo atualizadas. Além é claro das colaborações textuais de Fábio Rocha.

Por tudo isso, convido vocês a continuarem curtindo a morbidez do nosso Sarcófago.
Daniel Lisboa

segunda-feira, 9 de março de 2009

A EXPLOSIÇÃO VAI ACONTECER - IMPERDÍVEL

cartaz_show pro
Sexta-feira 13, Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, Patrimônio Cultural da Humanidade. Para celebrar a construção de sua obra maior, “O Sarcófago”, Jayme Fygura, há 10 anos afastado dos palcos, apresenta sua obra musical, acompanhado pela banda underground “Estrada Perdida”. Vestido com sua nova indumentária (armadura), Jayme executará uma performance mórbida e explosiva, que será registrada pelas lentes do diretor Daniel Lisboa para o filme “O Sarcófago”, premiado no edital de curta do Ministério da Cultura.

RELATOS 02 - RECICLAGEM ESPIRITUAL

Muro levantado, Sarcófago devidamente iluminado. O novo desafio era o que até então denominávamos: “A Limpeza do Sarcófago”, exigida por Jayme para que começássemos a filmar seu atelier. Logo pensei: Como Jayme vai limpar aquele universo caótico? O que é lixo e o que não é lixo ali? Bom, decidi independente de qualquer coisa, filmar tudo. Esse seria nosso primeiro dia de filmagem, o primeiro e o mais complicado. A limpeza estava recheada de exigências: Jayme não poderia sair do atelier carregando o lixo e jogá-lo na carreta, ele estava extremamente tenso com o processo de limpeza. Não queria de forma nenhuma que os vizinhos observassem o andamento das coisas, analisassem que tipo de entulho estava saindo do Sarcófago. Eles jamais compreenderiam o processo.

Jayme fazia questão que tudo acontecesse às cinco da madrugada e que a carreta parasse colada em sua porta, assim não precisaria sair do atelier, poderia arremessar os sacos e objetos diretamente na caçamba. Outra exigência era a compra de uma super mascara com cilindro de oxigênio. Existe um lugar no Sarcófago, uma espécie de chaminé, que segundo Jayme, mora um enorme rato, esse rato vêm soltando pêlos no interior dessa estrutura há séculos e se qualquer pessoa respirar essa poeira/secular, fatalmente adoeceria. Pensamos: massa, vamos comprar para toda equipe então. O problema é que a tal mascara custava um pouco acima do que imaginávamos. Principalmente para um filme de baixo orçamento como o nosso. Então, apesar dos protestos de Fábio, decidimos comprar a de Jayme e nos arriscarmos com nossos filtros mesmo.

Beleza, vamos nessa então, como a rua de Jayme é muito estreita, tivemos que armar uma logística danada com cones para que nossa carreta, parada no lado oposto ao de estacionar, não bloqueasse todo o tráfego da Ladeira do Carmo. Inailton conseguiu alguns cones com o Sargento que estava fazendo nossa segurança, pegou mais um com o próprio Jayme e ficou tudo certo.

Com o som também já estava tudo acertado. Um dia antes tínhamos visitado o Sarcófago com Napoleão e Weider, nossos técnicos de som. Segundo Napa, nós tínhamos descrevido o Sarcófago, em termos sonoros, um pouco pior que a realidade, porém, continuava bastante assustador. Logo foi diagnosticado que o sistema de ventilação de Jayme não caminharia muito bem com a captação de som direto. Após alguns minutos de explicação convencemos Jayme a desligá-lo durante a filmagem. No entanto, ao desligá-lo para um teste, percebemos que os sons da rua eram tão invasivos quanto ele. Jayme sabiamente se manifestou: - Ele foi construído exatamente para reprimir o som dos tambores! Refletimos um pouco entre optar pelos tambores ou pela turbina. Para nossa infelicidade corporal, o turbo/ventilador foi derrotado.

Pois bem, voltemos à filmagem, começamos com um certo atraso, a carreta só chegou as 6h. Subimos a pequena calçada, abrimos a lateral da caçamba e Jayme devidamente mascarado, iniciou o ritual de limpeza. Ou melhor, ritual de mudança. Nesse momento já tínhamos sido informados pelo próprio Jayme que não se tratava de uma limpeza, e que o que ele estava tirando do Sarcófago não era lixo, e sim matéria prima, reciclada durante anos em seu atelier. O que ele desejava agora era realizar a mudança dessa matéria, um remanejamento, sem destino, sem rumo, mas consciente que de alguma forma esses objetos voltariam para o seu Sarcófago. Pronto, depois de algumas broncas, ficou tudo entendido.

Definimos que dentro do Sarcófago com Jayme só ficaria eu e Fábio (Diretor de Fotografia). Igor (assistente de Fotografia) faria entradas pontuais para descarregar os cartões e dar apoio a Fábio. Somente nós três estávamos vestidos adequadamente para o Sarcófago. Do lado de fora Inailton (produtor de Campo), Carol e Eliana (Produtoras de Base), Napoleão e Weider (Som), que antes de tudo já tinham lapelado Jayme e o atelier, Zé Bola(Eletricista), Cristiano (motorista) e o Sargento, que segundo Inailton é o dono do Pelourinho. No decorrer do dia percebemos que ele não estava mentindo. Hum! Já estava esquecendo Mauricio, motorista da carreta de frete, figura importante também no dia.

Jayme parecia incorporado. Apesar de termos dado instruções para ele falar enquanto trabalhava, a única coisa ouvida nesse dia foram xingamentos, gritos e urros. Como um mecanismo acionado o Fygura percorria os corredores do Sarcófago com os braços cheios de entulhos. Se batendo nas paredes, empresando, arrancando, mutilando. Havia momentos em que parecia que Jayme esquecia que era humano, que carrega um corpo, com pele, ossos e sangue. Desgraça!!! Revirando aqueles objetos Jayme parecia estar estripando as suas próprias entranhas. As idas e vindas levantavam uma nuvem de poeira. A fedentina se instalou. Tentávamos nos posicionar à procura do plano perfeito, sem atrapalhar sua movimentação. Para permanecer ali se fazia necessário adentrar na energia de Jayme, acompanhar seu transe, e seguir em ritual. A caçamba enchia cada vez mais. Em alguns momentos tive que passar do Sarcófago para a caçamba para organizar os entulhos na carroceria. Esse processo se estendeu por horas. Muito mais do que as 2h que nós e Jayme imaginávamos. A montanha de entulho não parava de crescer. Mauricio, o dono da carreta, parecia não acreditar no que estava acontecendo, tinha sido chamado para um simples frete e estava ali, diante das entranhas de um Sarcófago. A tal mudança acabou por virar um acontecimento no Pelourinho.

Diferente da descrição exigida por Jayme, os vizinhos e os transeunte acabaram virando espectadores do processo. O Gari que subia a rua perguntou: Jayme está se mudando? O bêbado boquiaberto: Ele Morreu? A velha vizinha do andar de cima cantarolou: Até que em fim, até que em fim! Impávido, protegido por sua mascara, Jayme prosseguiu durante horas. Para mim, ao ver a carreta subindo a ladeira, ficou difícil de entender de onde Jayme tirou todo aquele volume. No final, ao entrar novamente no Sarcófago, ele parecia o mesmo, intacto, como se nada tivesse saído dali. Somente imagens e sons maravilhosos.

Texto: Daniel Lisboa

Foto: João Ramos


terça-feira, 3 de março de 2009

O FORA E O DENTRO DO CORPO-OBRA

“Outrem é quem fabrica os corpos com os elementos, os objetos com os corpos, assim como fabrica seu próprio semblante, com os mundos que exprime.” Michel Tournier

; quando vi JAYME pela primeira vez eu não podia ver seu rosto, mas eu tinha certeza, que ali dentro havia uma expressão de êxtase...a perspectiva de ver sem ser visto....uma espécie de antipanoptismo (O olho que tudo vê...sem ser visto) estava instaurada..o homem convertido em obra...a obra convertida em signo...mas - enquanto tal - é pura exterioridade...e na hipertrofia da imagem sobra o efeito de véu de ferro...um homem nú...exposto fora da galeria...trinta anos dentro de uma segunda pele...era sobretudo uma revolta e mais que isso um revide (pré)histórico...um desejo anárquico contra os valores instituídos...uma resistente inadequação-inquietude dos esquemas formais da arte contemporânea...e ainda assim...um outro espaço gestado para a arte na contemporaneidade...o fora-íntimo...a corporeidade a céu aberto...uma guerra entre o "dentro" e "fora"...no limiar, expressava o paradoxo do ser...ser dentro...ser de dentro...sedento por um fora...era o Sujeito-objeto dissipado ao sabor dos ventos no cotidiano artístico modelizado...Quando vi essa FYGURA pela primeira vez nos idos dos anos 80 (e nessa época...é preciso dizer...não entendia os paradigmas e os contra-modelos de inspiração ético-estética) me assustei...hoje percebo que para ser um artista é preciso se fazer um corpo...um corpo que extrapole o organismo...um corpo experimentando as intensidades de uma reinvenção vital...uma forma-conceito singular de subjetivação...um outrem aberto para mundos (im)possíveis...uma anti-estrutura do campo perceptivo-sensitivo..um não-abstrato real...um corpo presentificado performaticamente...construído-desconstruído nos laboratórios de uma UZYNA-MÁQUINA DE GUERRA...um corpo- arte estranho...uma aparência oposta e contrária ao mundo das aparências...com o qual sempre esteve (problematicamente) (des)ligado...seu ritual é de anti-produção...acordar perifericamente, levantar obra, andar para o centro, pensar o trajeto, escrever uma poética, correr atrás do “combustível’...produzir um corpo...continuar obra...entregar-se ao fascínio da ausência de tempo (é impossível saber a idade de uma máquina)...fora do relógio, dentro da ausência...uma crise da arte extensiva a todo o espaço cultural...aí começa a inevitável pergunta: isto é arte? Não...a arte é que é isto!... “Entre a fome, a miséria, a guerra e a do , eu acho as minhas próprias razões...o espírito expõe seus sentimentos buscando no escuro um pouco de luz...com molduras de farpas reluzentes...o espírito expõe a dor do amor a arte”...é dessa experiência que extraímos uma imagem-movimento...uma imagem para além da imagem...uma engrenagem livre... corpo-escrita...sobre o qual a morte desenha os contornos da sua permanência...a
transgressão desse ser-evento é o que serve de magnetismo para o cinema-olho...é o que nos atrai e o diferencia dos demais artistas...quando abandona o bom senso e o senso comum...ele acaba por “olhar para fora com um grande olhar animal...” e isso só ele pode ver...os olhos mudam de direção e essa viagem é o outro lado...e o outro lado é o acontecimental de não viver desviando...mas direcionado para dentro...JAYME é uma ilimitada periferia (des)centralizada...um cérebro que é uma cidade...uma cidade-cérebro melhor dizendo...um ninho de ratos...um subterrâneo de formigas e aranhas...um enxame de abelhas...uma multiplicidade incontrolável em que se encontra um outra ordem...não mais a do homem e a do Estado...uma multiplicidade do FORA-DENTRO...a sede da infinita proliferação disjuntiva...travessia cósmica...uma arquitetura labiríntica...paleta sensorial da sobre(super)vivência do tumulto de um mundo anômalo e feroz...a morte-vida sempre o acompanhou diante da ambição do semelhante....e esse espírito dominado pelo primitivo...de uma perseverança que tateia as inconstâncias da miséria...de uma vontade traduzida em angústia da pobreza...é também um abandono ao fora das impotências sociais...é também o dentro onde a consciência cessa de ser consciência ...universo móvel-fixo...energia cósmica e libidinal...placas imperturbáveis de idéias-práxis...engenharia rígida...cérebro-patrimônio-corpo-histórico da humanidade...corpo-tumba que passa por palácios, fábricas, asilos, escolas, siderúrgicas, cemitério, feiras, sanatórios, prisões, por vermes, vizinhos, por agressões físicas...e depois de ter passado pelo exército...e por uma gráfica...acaba por chegar a um espaço-tempo puramente afirmativo: o seu movimento pelas margens...o seu mergulho no infinito do impensado...a sua navegação nas ondas do devir...a sua dobragem ao limiar da potência...certamente o torna um instrumento vibrátil...no qual a vida é sempre uma eterna e infinda invenção...de início um sentido manifestamente liberatório da arte, um íntimo informalizável...por fim...um non-sense vanguardista...carregando os traços das lutas populares centenárias num único corpo...essa é a lógica dos seus sentidos...é ele próprio uma luta dentro-fora dos mercados simbólicos...concentrado, imperturbável... uma pele em carne viva...uma vida em pele de ferro...o sangue escorrendo sem ser visto...as veias abertas de uma América latrina...cheia de merdas e expressões bizarras que são repetidamente vociferadas na oralidade maquínica do obra-diferença...donde a ação desafiadora dessa performance de três décadas...suas mutações anorgânicas...é nada mais que um rosto fora de cena, de lugar, de sentido...rostidade zero...na mais contraditória das imagens...jorrando no seu campo de batalha...flores e armas de uma tragédia transformada em obra de arte...ao tempo em que é um adeus às obras primas...uma adeus a galeria...uma adeus...às Belas Artes...esse é o seu artifício...uma obra paripatética...isto é, um ARTEfício que perambula...pés-tanque de guerra e paz...por meio do qual enfrenta a morte cotidiana...por isso a angústia é necessária para os seus procedimentos...para o seu plano de composição...sem ela, morrer seria fácil...e é justamente da tragicidade que nasce o êxtase...assim como todo objeto de êxtase é criado pela por esses artifícios...a experiência desse artista-obra é uma experiência de morte...o terror, o sofrimento, a morbidez...dita de dentro para fora..THEMORB..é o que assegura a sua paz(ciência) laboriosa...o seu sacrifício visa o sagrado...É uma forma de experiência com o sagrado...com o “espírito”...sob a tortura do peso das farpas...ele parece sempre extasiado...explodindo, excedendo os muros de sua volumetria paradoxal...a cada passo fora de seu lugar interior...aguça ao extremo o problema de nossas próprias dimensões do dentro...e na intimidade...sempre gargalha alto...uma risada como quem diz: “aqui dentro eu estou vivo... lá fora é só a morte”...hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi hi!!!
Texto: Fábio Rocha

Fotos: Inailton Pinheiro

FARPAS - TANQUEDEGUERRADAPAZ

TANQUEDEGUERRADAPAZ
Para Maior Visualização:

http://www.flickr.com/photos/curtaosarcofago/3324853066/sizes/l/