quarta-feira, 25 de março de 2009

A DESCOLONOMIA E O PÉ COMO ORIGEM DAS DESGRAÇAS


"O detalhe é ornamento que se traduz em puro signo, que produz sentido (...), que é enfeite, metáfora do cordão umbilical de nossa ancestralidade. Enfeitiça, é poder, sedução, poderes inabarcáveis, não totalmente normatizáveis. Seu poder reside justamente no que não diz, no que esconde, no que não suporta análise."

Eliane Chagas

Basta olhar para os pés de JAYME para perceber a origem de suas desgraças...quer dizer...para um entendimento das desgraças de um andarilho em sua cotidiana DESCOLONOMIA...expliquemos melhor...uma das poucas coisas que podemos ver quando olhamos para esse neotuaregue da cidade e o seu processo de andar, perambular, deixar de ser, mudar sem sair do lugar...num movimento, digamos, de des-desgraçar a vida...é o seu PÉ...vamos por parte...historicamente o nomadismo na economia recolectora era motivado pela deslocação das populações na procura constante de alimentos...hoje o sedentarismo e as manicures se completam...pedra pome...alicates...esmaltes...e pés finos...isos...demonstração da subjetividade vindo de baixo...no caso do FYGURA...não há pedra pome e alicate que dê jeito na queratina adquirida em suas andanças...tamanha a movimentação Descolectora – neologismo que designa um novo aspecto do nomadismo: descolar as coisas – o pé e a descolonomia...nesse sentido estão intimamente ligados...são causa e efeito...o pé rachado da desgraça social e uma pseudociência nômade de espaço impreciso se complementam...onde espaço, tempo, velocidade, política, economia simbólica, acidente, percurso, fome, ternura, se perpendicularizam...e quid facti...é daí que podemos apreender a – a quem interessar possa – a radical transfiguração da carapaça do artista e a frágil competência dromológica das instituições políticas herdadas da modernidade quase o assunto é processo civilizatório...ainda não está claro...nos esforcemos um pouco mais...adentrar no campo da Transpolítica...naquilo que chamei por acaso de CINEMADOLOGIA (método de fazer cinema caminhando....e caminhar nas imagens-movimento sem sair do lugar) podemos dizer que ao perceber recortar o pé de JAYME...logo utilizamos as interações para capturar e devolver ao organismo social um deslocamento (descolamento) autêntico, singular, e mais que isso, verdadeiramente desgraçado pelo espaço-tempo da nossa transhistoricidade...bem que o FYGURA poderia ter desenvolvido com seu talento de ferreiro...uma espécie de Homeless Vehicle...aquele projeto do designer Krzysztof Wodiczko...carrinho construído com placas de alumínio, barras e grades de aço, e plexiglass....só que JAYME não é um homeless...sua casa é o mundo....e seu mundo é uma grande oca de resistência...além do que as “suas coisas” é a única coisa que importa...e com razão porque o seu estranhamento é único...o estranhamento aumenta quando alguns moradores de rua tentam se identificar com os farrapos...as farpas...e não conseguem mais que atestar uma diferença fundamental de vontade...o estranhamento aumenta quando um burguês quer tirar uma foto ao lado de um mutante para recompor a sua imprecisão e não consegue nada mais que uma discrepância...seu estranhamento aumenta quando a rostidade zero acaba por provocar uma irritação da identidade e uma contraviolência de espelho e isso é nada mais que um atestado de que o medo tem um rosto...seu estranhamento é maior quando nos seus abafanéticos passos...a discussão acerca das diferenças cai feito Faetonte...quando se percebe a intolerância...pedradas...xingamentos...insultos que revelam de mais a mais a hipocrisia dessa pseudo democracia do igual...é preciso dizer...em salvador ninguém tolera o diferente...e a maledicências que é um dos elementos mais forte dessa nossa “identidade” nada mais é do que a incapacidade de aceitar a enesidade das cosgomonias...para os neófitos explico melhor....a incapacidade de aceitar a diversidade de visões de mundo...rejeitar o outro é não aceitar a si mesmo como diferença...a repetição do mesmo é sobremaneira uma incapacidade de se trasubstanciar...de se despersonalizar no outro...de um modo claro...e posso dizer isso com convicção porque sempre fiz isso...meu revide era “falar mal” daquele que não aceitava o mal....a transgressão...o torto...o monstruoso...o mórbido...o underground...a transvaloração...o alternativo...e isso já é uma primeira imagem desse ambiente – daqui ninguém sai vivo – e que nas perambulações do monstro urbano logo fica patente essa outra maledicência...que chamo de falsa maledicência...que é a incapacidade de identificar procedimentos diferenciados misturado com uma pitada de inveja da sua própria incapacidade de ser diferente...somado ao “mal pelo mal”...o espírito de rebanha mal-educado para a concretude da disjunção...citemos um exemplo para concretizar ainda mais isso que cotidianamente se dá com o FYGURA...um misto de intolerância com fascismo...ódio com mediocridade...ingratidão com soberba...citarei o exemplo do cinema onde a fogueira é grande e a luta pelos espaços de saber-poder são incansáveis e tortuosos...como se fosse mesmo possível destruir um processo singular...ou simplesmente deslegitimá-lo...este por exemplo de O SARCÓFAGO...ouvi nas alcovas...ou melhor em conversa fiada...em falácias de dispersão e falcatruas de disceptação...desses sensores do disse-me-disse (e isso aqui é apenas uma análise discursiva...eu me complemento dessas fissuras) que esse filme não daria certo da maneira que foi pensado, iluminado e gestado....como não?
Para ler o texto na integra acesse:

Texto: Fábio Rocha
Foto: João Ramos

Um comentário:

  1. Parabens Fabio pelo texto! Imprimi e distribui entre uns alunos... rsrsrs
    avante na luta contra a paranoia totalizante do mundo baiano!
    ap

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