Caminhando na contramão dos curtas anteriores através da criação de um mito dentro do universo urbano da Bahia, O sarcófago (Daniel Lisboa, 2010) mostra a composição primitiva e apocalíptica de um artista plástico para sua maior obra de arte: ele mesmo. Lisboa, através de uma edição precisa, uma trilha sonora contundente e impulsionante e enquadramentos estudados, consegue compor a dinâmica de sua personagem e permitir que o filme seja completamente dela. Religião e futurismo se mesclam em um Frankenstein estranho aos olhos da cidade, mas que comunica essa necessidade de transcender as barreiras temporais e espaciais da representação de si mesmo para seus companheiros de comunidade.
sábado, 18 de dezembro de 2010
JANELA DO RECIFE
Caminhando na contramão dos curtas anteriores através da criação de um mito dentro do universo urbano da Bahia, O sarcófago (Daniel Lisboa, 2010) mostra a composição primitiva e apocalíptica de um artista plástico para sua maior obra de arte: ele mesmo. Lisboa, através de uma edição precisa, uma trilha sonora contundente e impulsionante e enquadramentos estudados, consegue compor a dinâmica de sua personagem e permitir que o filme seja completamente dela. Religião e futurismo se mesclam em um Frankenstein estranho aos olhos da cidade, mas que comunica essa necessidade de transcender as barreiras temporais e espaciais da representação de si mesmo para seus companheiros de comunidade.
FILMES POLVO
por João Toledo
O curta de Daniel Lisboa é certamente um dos filmes mais fortes da mostra competitiva brasileira. Seu impenetrável protagonista é um homem no qual se imbricam vida e arte. Trata-se de um personagem cuja vida pessoal já não parece se distinguir de suas práticas expressivas; tornou-se, ele próprio, objeto de sua criação, veículo de sua arte, homem sem face em busca de superar seu corpo, encontrar uma força pós-humana. O homem conflituoso, de arte violenta e rude, vai aos poucos deixando fluir uma torrente de pensamentos ora contraditórios enquanto eleva uma espécie sarcófago de barro, última fortaleza de sua dor solitária, ou leito de sua superação. Nenhum pensamento, no entanto, é pleno o suficiente para desmascararmos o homem cuja face já não o representa.
Lisboa opta por não nos permitir acesso à imagem humana do protagonista, assim como não nos é dada qualquer informação sobre sua vida pessoal a ponto de nos permitir conclusões e explicações sociológicas ou psicológicas. Interessa menos o que o levou até ali e mais o que ele produz; interessa a força de uma imagem, o peso de sua caminhada, a grosseria de seu acabamento, interessam os sons que constroem e dão peso àquela atmosfera insólita. Daniel faz um filme extremamente sensorial, um filme que penetra a forma, que abraça a instabilidade e o caos daquele universo para construir uma narrativa de solidão e dor sem precisar representar a solidão ou a dor; estas se inscrevem sutilmente no registro, e se potencializam no peso do som e da tela que nos consomem.
*Visto no 12º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
MULTICULTURA
sou Cláudio Marques nessa coluna semanal do Coisa de Cinema, dentro do Multicultura.
O curta metragem Sarcófago, de Daniel Lisboa, foi escolhido com um dos três melhores do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Os outros dois curtas ganhadores foram Faço de Mim o Que Quero, dos pernambucanos Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, e Handebol, da carioca Anita da Silveira. Os três curtas foram exibidos aqui em Salvador em junho, dentro do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Aliás, Handebol foi eleito o melhor curta do Panorama.
O festival contou com uma seleção muito boa e teve sessões concorridas.
Após uma série de menções honrosas pelos festivais afora, Sarcófago ganha seu mais importante prêmio até então e firma-se como um dos mais relevantes curtas do ano.Trata-se de uma recriação
da obra de Jayme Figura. E a obra de Jayme é sua própria vida, seu cotidiano, sua peregrinação por uma Salvador equivocada, mas vendida como paraíso aos incautos. A angustia claustrofóbica desse ser errante e escabroso, transforma-se num filme potente, cinema de verdade, pelas mãos de um diretor de verdade.
Daniel Lisboa credencia-se para vôos mais altos a partir de então. Entre seus novos projetos, o roteiro de longa-metragem Tropykaos, que deverá disputar os principais editais de fomento no ano que vem.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
ARTE e MONTAGEM em Londrina
Foram exibidos 16 filmes selecionadas entre 313 materiais de 19 Estados. O Júri Oficial foi composto por Marcelo Lordello (cineasta pernambucano), Marcelo Miranda (crítico mineiro) e Mário Bortolotto (dramaturgo londrinense).
Melhor Filme (Júri Oficial) – Recife Frio (PE, ficção, cor, 23 min., 35 mm. 2009), de Kléber Mendonça Filho.
Melhor Filme (Júri Popular) – Recife Frio (PE, ficção, cor, 23 min., 35 mm. 2009), de Kléber Mendonça Filho; e Amigos Bizarros do Ricardinho (RS, ficção, cor, 35 mm, 2009), do cineasta gaúcho Augusto Canani.
Melhor Direção – Anita Rocha da Silveira por Handebol (RJ, ficção, 19 min., cor, 35 mm, 2010).
Melhor Roteiro - Kléber Mendonça Filho por Recife Frio (PE, ficção, cor, 23 min., 35 mm. 2009).
Melhor Direção de Fotografia – Pedro Urano por Faço de Mim o Que Quero (PE, documentário, cor, 19 min. 35 mm, 2009), Ensaio de Cinema (RJ, experimental, 15 min., 35 mm, 2009) e Ensolarado (MG, ficção, 14 min., 35 mm, 2010).
Melhor Direção de Arte – Jayme Figura por O Sarcófago (BA, documentário, cor, 19 min., 35 mm 2010).
Melhor Montagem – Marcos Povoa por O Sarcófago (BA, documentário, cor, 19 min., 35 mm, 2010).
Menção Honrosa – concedida pela comissão avaliadora para Meu Medo (Curitiba, animação, 11min, cor, 35 mm), de Murilo Hauser.
http://mostralondrina.com/
MELHOR FILME FESTIVAL DE BH
Prêmios Júri Popular:
Mostras Especiais e Animação Brasil
“O som do tempo” – Petrus Cariry (CE)
Próximo Curta – Mostra Minas
“Revertere ad locum tuum” – Armando Mendz (MG)
Competitiva Brasil
“Recife frio” – Kleber Mendonça Filho (PE)
Competitiva Internacional
“Thermes” – Banu Akseki (Bélgica)
Prêmios Júri Oficial:
Competitiva Brasil
“Faço de mim o que quero” – Petronio Lorena e Sergio Oliveira (PE)
“Handebol” – Anita Silveira (RJ)
“O sarcófago” – Daniel Lisboa (BA)
Competitiva Internacional
“The Shutdown” – Adam Stafford (Escócia)
“Hunger” – Carolina Hellsgard (Alemanha)
“Wakaranai Buta” – Atsushi Vada (Japão)
http://www.festivaldecurtasbh.com.br/